quarta-feira, 14 de março de 2018

O sensível e o gaiato

Esse post é sobre meus filhos João e Guga, hoje com 14 e 12 anos respectivamente.
E sobre o principal traço da personalidade de cada um deles. Aquilo que os faz únicos na dinâmica dos nossos dias. Que os caracteriza.

Mas antes de mais nada, pra entender o post, é necessário assistir
a esse vídeo aqui ó 👇



Viu? Então tá. Pule um parágrafo.

Não viu? Ah, deixa de preguiça e aperta o play ali, vai?
Além de estar perdendo uma ótima interpretação e leitura do livro A Parte que Falta, de Shel Silverstein, você não vai conseguir acompanhar o que vou escrever a seguir.
Volta lá que eu espero.

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Bem, quando vi esse vídeo da Jout Jout, decidi que queria que esse livro morasse em algum cantinho da minha casa. Queria tê-lo por perto pra ler em diferentes momentos da vida. Pra ler com a família. Com os amigos. Os amigos dos filhos e os amigos dos amigos.

E quem sabe, com isso, contribuir para que essa filosofia do "TUDO BEM FALTAR ALGO NA SUA VIDA" se espalhe e vire algum dia senso comum. E que com o tempo (mesmo que bem, bem distante), esse pensamento consiga diminuir ao menos um pouco a ansiedade e a insatisfação que moram dentro de cada um de nós.

Enfim, enough sobre o livro em si porque o post aqui é sobre os meus filhos.

Corri pra uma livraria online porque o livro estava esgotado nas lojas físicas e comprei meu exemplar, toda feliz.

Ontem, quando o livro chegou, eu já tinha em mente a dinâmica que faria em casa para apresentar essa obra que tanto me emocionou para a nossa família. Repeti com os meninos exatamente o que fez a Jout Jout em seu canal, quando recitou (uso o verbo recitar porque o livro é poesia pura) aquelas palavras, sem resenha, sem preâmbulo, sem introdução nenhuma.

Queria ver se eles seriam capazes de captar a mensagem do livro nessa idade tão indefinida e confusa, em que não são nem mais crianças (e daí a pureza poderia ter se perdido), nem ainda adultos (quando já tocamos a vida tão no automático que às vezes não paramos para perceber os detalhes, nessa mania de rolar rápido demais...)

E eis que tive, nesse momento família, a perfeita noção do principal traço da personalidade de cada um dos meus filhos e que os faz tão únicos e especiais.

Em primeiro lugar, importante dizer que a reação inicial dos dois foi:

- Sério, mãe?! Livro de criança?! Que saco, hein! -- nem tudo são flores...

Mas insisti. Afinal, democracia aqui em casa só quando me interessa 😏

Lá pela metade do livro, quando o Pac-Man (não é igual a um Pac-Man, gente?!) passa por poucas e boas, encontra minhoca, passa besouro, cantarola, sobe montanha, desce montanha... parei e perguntei:

- Meninos, vocês estão entendendo o que tá acontecendo aqui? -- não sabia nem se estavam prestando atenção, quiçá entendendo o que se passava naquela historinha aparentemente tão boba.

João deu de ombros (quanto mais adolescente, menos se quer dar o braço a torcer, né? Quem nunca?).

Mas Guga respondeu:

- Sim, mãe. É a vida. E seus desafios. -- disse assim, na lata, em poucas palavras, sem afetação. Como se estivesse dizendo algo tão óbvio, mas que na verdade, sabemos que pra muitos, tão mais velhos (experientes), não é.

Pausa pra emoção dos pais (a essa altura, Gordo já tinha se juntado a nós, percebendo que esse seria um daqueles momentos que íamos querer recordar sempre).

Segui mais um pouco na leitura e quando cheguei no trecho que o Pac-Man encontra uma parte pequena demais, João me interrompe subitamente e solta:

- Ah, mãe... o nome disso aí que rolou agora é pedofilia, hein...

Gargalhada geral.

O papo todo pós-leitura foi gostoso, mas o que marcou esse momento foi que de agora em diante, quando alguém me pedir pra descrever os meus filhos em uma palavra, vou indicar esse post aqui pra que entendam o que quero dizer quando falo que João é meu gaiato e Guga a sensibilidade em pessoa.

Fica então o registro para a posteridade.

Amo de doer.