sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"The Help" - "Histórias Cruzadas"

Sim, sou uma manteiga derretida!
Choro ao menor estímulo, me emociono facilmente.
Mas hoje não fui só eu que me derreti assistindo ao filme "Histórias Cruzadas"-- que apesar de não traduzir em nada o seu título original em inglês, "The Help", traduz muito bem o sentido do filme. Quando as luzes se acenderam no cinema, não só as mulheres estavam fungando, mas também vários homens tossiam tentando disfarçar o choro preso na garganta e as lágrimas que cismavam em brotar nos cantos dos olhos.

Eu, claro, me entreguei ao choro. Fiquei sentadinha, esperando todo mundo sair, assistindo aos créditos, assistida pelo meu marido, que já conhecendo bem a esposa que tem, sacou logo alguns guardanapos do bolso para ajudar a me recompor.

O filme é lindo. Conta uma linda (e verdadeira) historia passada na década de 60, no auge da segregação racial nos Estados Unidos, no estado do Mississippi, um dos estados mais conservadores (e racistas) daquele país. Uma jornalista, branca, idealista, resolve escrever um livro contando historias relatadas pelas empregadas domésticas negras da época, a partir de suas perspectivas em relação às suas patroas brancas. Apesar de ser um drama, o filme rende boas e gostosas gargalhadas!

O tema já foi abordado em várias outras obras, livros, filmes, e sempre, sempre me toca profundamente, por conta da crueldade e audácia de que o ser humano é capaz. Hoje não foi diferente.

A diferença é que esse filme nos lembra como nossas vidas estão intimamente ligadas às vidas de nossas empregadas, babás. Nossas ajudantes. The Help. Como nossas histórias são tão cruzadas. E como, apesar de passados tantos anos, muita coisa que ali foi retratada não mudou. As nossas ajudantes continuam vindo de longe, continuam pegando mais de uma condução, continuam ganhando salários baixos, utilizando um banheiro separado, deixando seus filhos de lado para tomar conta de nossos filhos e continuam sendo, em sua maioria, negras.

Não quero escrever aqui sobre racismo, nem quero criar polêmica, ou levantar qualquer bandeira. Longe de mim tentar ser hipócrita sobre esse assunto, já que assumo minha mea culpa em relação ao papel de "patroa" que desempenho nessa realidade.

Quero só registrar o quanto o filme me fez ver que preciso me esforçar muito pra continuar passando valores sólidos aos meus filhos, sobre a importância de respeitar o próximo, de fazer o bem, de querer bem a quem quer que seja, de não fazer distinção de cor ou classe social, de tratar o próximo como igual, sempre, e não julgar uma pessoa por sua aparência ou somente por sua posição social. (No filme, há uma personagem que faz o tipo "loira gostosona", que ao primeiro olhar poderia ser já taxada como fútil e vazia, e no entanto, era de uma pureza e bondade emocionantes. Sua personagem, e a interação com a personagem que fazia sua empregada, me tocaram muito.)

Em casa, temos uma preocupação especial (e natural) em relação a isso. Tanto eu como meu marido temos horror e ficamos indignados quando vemos cenas de desrespeito a garçons, porteiros, empregadas domésticas, caixas de supermercado... E como todos sabemos, estas cenas, infelizmente, não são raras. Ensinamos nossos filhos a dizer "obrigado", "por favor", "com licença" quando são servidos ou necessitam de algo. Minhas ajudantes sempre souberam o quanto são importantes em nossas vidas e fazemos questão que os meninos também tenham total consciência disso.

Mas hoje saí do cinema com a sensação de que tudo isso ainda é pouco, muito pouco. É preciso muito mais para criar uma nova geração de pessoas que se respeitem e que valorizem os serviços prestados por aqueles que atuam como nossos ajudantes, e que cruzam nossas vidas diariamente.

Foi essa a sensação. Não conseguiria dormir hoje sem colocar isso tudo pra fora.

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